quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O horário nobre do twitter no Brasil

Pelo segundo ano seguido, o Scup publica o estudo “Os horários nobres do Twitter no Brasil.” Desta vez, foram identificados os horários de maior movimento no microblog a partir da análise do volume dos tweets coletados pelos monitoramentos feitos com o Scup em 2011. No total, foram monitorados 36.092.631 tweets de domingo a sábado durante os 12 meses do ano passado, uma média de 3.007.719, 25 tweets por mês.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

As tendências para 2012

Publicado na Revista Você S/A


O que você é neste mundo? Ator ou espectador?

Por: Gil Giardelli
O nascer de um novo ano traz esperança, alegria e também incerteza. Como vamos enfrentar mais um ano de mudanças rápidas e a soma de mais complexidade ao nosso trabalho? Como diz o psiquiatra Flávio Gikovate, “medimos a potência intelectual de uma pessoa pela capacidade de suportar dúvidas”. É esse o nosso desafio.

            Compartilho aqui algumas megatendências para 2012, baseadas em várias das principais pesquisas mundiais na área. Que elas sirvam para gerar novos mapas mentais e, por que não, mais dúvidas para sua carreira e sua vida pessoal neste ano que se inicia.

·         Saúde na era digital – Tanta tecnologia e conexão exagerada geram ansiedade e depressão. Faça diferente. Use a tecnologia para cuidar da saúde, melhorar a qualidade de vida e ganhar tempo. Não seja um escravo da informação. Coloque a inovação digital para trabalhar para você. Com poucos dólares e uma gota de saliva, rastreie seu genoma na 23andme.com e viva até os 250 anos.

·         O século da Ásia – O poder mudou de hemisfério. Já pensou em aprender mandarim em 2012 ou em viajar para conhecer algum país asiático? Busque novas culturas e novas visões de vida.

·         Empregabilidade – Você já tem um blog? Usa seu Twitter para compartilhar ideias que merecem ser espalhadas? Seu Facebook só tem fotos de festinha? Seu LinkedIn está organizado? Você é um produtor de conteúdo ou um mero replicador? Acredite, os melhores empregos e cargos estão sendo definidos na arena digital.

O vice-presidente financeiro da Oracle foi contratado pelo LinkedIn. Cuide já do seu perfil.

·         Tudo será digitalizado – Documentos que há séculos estavam arquivados em órgãos públicos e universidades estão sendo abertos, esperando você para estuda-los. Deseja saber a história dos imigrantes no Brasil? Consulte os documentos no memorialdoimigrante.org.br. Há muito conteúdo aberto e gratuito em republicofletters.standford.edu, mba60segundos.com.br, TEDx, singularityu.org e flowingdata.com.

·         O futuro do consumo – Os tablets, que vão acelerar a troca de informação e humanizar as relações entre pessoas, empresas e governos.

·         Ferramentas de geolocalização – Foursquare, Ban.jo ou Poorsquare podem ajudar você a economizar e praticar o significado do consumo colaborativo, consumo consciente e reciclagem global.



Lembre-se da célebre foto da menininha caminhado de cabeça erguida em frente a um muro onde está escrito “Seja honesto, mesmo que outros não sejam, mesmo que outros não serão, mesmo que outros não possam ser”. Paz, saúde e prosperidade. Ah, e não use velhos mapas para descobrir novas terras em 2012.



Gil Giardelli – Escreve sobre inovação digital. É professor do Centro de Inovação e Criatividade da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e da Miami and School e presidente da Gaia Creative.

O que é tendência de consumo em 2012?

Embora seja difícil apontar caminhos seguros, a Trendwatching.com elenca 12 tendências que deverão pautar o universo do consumo nesse ano. Confira!


Se em tempos de “paz” já é difícil saber quais serão os produtos e serviços que farão sucesso no mundo dos negócios, fica ainda mais difícil prever movimentos de mercado num tempo em que Europa e Estados Unidos veem crises se arrastarem por tempo indeterminado.

Mesmo assim, a Trendwatching.com, empresa de monitoramento de tendências comerciais, apontou 12 tendências de consumo crucias para a sobrevivência dos empreendedores em 2012. A organização busca insights e inovações que sejam aplicáveis aos negócios em todo o mundo. As tendências elencadas pela Trendwatching.com valem para empresas de todos os tipos e tamanhos.

Embora algumas das tendências envolvam o desenvolvimento de produtos e serviços com alta tecnologia, como a criação de meios alternativos de pagamento que não envolvam o uso de dinheiro em espécie, a Trendwatching assegura que os conceitos considerados nesse tipo de tecnologia são ainda mais fáceis de serem assimilados por companhias menores.

Isso porque, segundo explica Luciana Stein, que representa as atividades da organização no Brasil, empresas menores conseguem mudar suas trajetórias mais rapidamente, sem precisar se preocupar em contrariar as ordens preexistentes.

“Mostre-nos um empreendedor de sucesso que não possa aplicar o Dealer-chic e oferecer aos seus clientes acordos ou descontos que os fará sentir inteligentes, excitados ou divertidos”, exemplifica.

Ela cita, também, as possibilidades de implantar os princípios do que a Trendwatching chama, na décima tendência apontada para 2012, de Recommerce – ou recomércio, na tradução livre para o português – em que qualquer empreendedor é estimulado a recomprar de seus clientes itens antigos ou, ao menos, conceder descontos na aquisição de um novo produto.

“Todos os empreendedores podem comprar de volta algo de seus clientes no caso de uma nova compra. E repassar os itens comprados a uma organização não governamental pode fomentar uma boa reputação também”, afirma.

Aplicação expressa

Já estamos em fevereiro e será que já não é tarde para começar a pensar em tendências para o ano? Segundo Luciana, não. Por se tratarem de tendências, é de se esperar que levem bastante tempo para que se disseminem na sociedade.

O exemplo citado por Luciana é dos jornais em papel, que ainda coexistem, há mais de uma década, com a imprensa online. “O impacto das principais tendências é, muitas vezes, sobre-estimado no curto prazo e super estimado no longo prazo. As principais tendências de consumo dizem respeito a profundas mudanças sociais e culturais, que desafiam as estruturas econômicas e legais estabelecidas”, analisa.

Confira um resumo das 12 tendências de consume mais importantes apontadas pela Trendwatching para o ano de 2012:

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Um olhar digital sobre o consumidor

Meio & Mensagem - 07 de Fevereiro de 2012



Estudo da DM9DDB cria nova classificação do público a partir da relação com as inovações tecnológicas

Por Fernando Murad



Independentemente da geração a qual pertence, toda pessoa foi impactada de alguma maneira pelas mudanças trazidas pelo universo digital. Para entender como os diferentes grupos de consumidores estão se comportando neste novo cenário, é preciso fazer análises com critérios além dos convencionais como demográficos e, até mesmo, psicográficos. Pelo menos esta é a conclusão de um estudo feito pela DM9DDB sobre o comportamento digital que criou uma nova segmentação de consumidores batizada pela agência de perfis “digigráficos”.

O levantamento constatou que as mudanças no comportamento das pessoas¬ geradas pelas inovações digitais têm pouco ou nada a ver com sexo, idade ou classe social. Com isso, foram desenvolvidos três critérios que levam em conta quanto e como as pessoas utilizam os recursos e equipamentos de tecnologia em suas vidas, quais as intenções que elas têm ao consumir os diversos produtos digitais e, principalmente, quanto os recursos digitais servem para moldar sua própria identidade.

“O estudo é sobre perfis, mas trata de coisas mais profundas. Traz não só uma segmentação como um novo olhar sobre as mudanças importantes que ocorreram na vida das pessoas. Os perfis não são rígidos ou exclusivos. É mais um critério comportamental”, afirma Cynthia Horowicz, vice-presidente de planejamento da agência. “Será uma grande contribuição para que as marcas sofistiquem seu entendimento do consumidor na era digital”, complementa. O estudo etnográfico envolveu entrevistas em profundidade com 25 pessoas, de seis gerações, entre sete e 60 anos, conversas com especialistas de diversas áreas, e a aplicação de questionário em mais de 50 pessoas.

A proposta do trabalho não é substituir os critérios tradicionais, mas apresentar um olhar diferente que pode contribuir para melhorar as estratégias de marketing das empresas. “A cristalização dos insights para as marcas deve começar agora. Isso vai ajudar a redefinir o valor de cada mídia”, adianta Rodrigo Maroni, diretor de planejamento e estratégia digital da DM9DDB. O próximo passo do estudo será fazer um trabalho quantitativo para mensurar o tamanho de cada perfil dentro da população brasileira.

Cinco tipos

Após a conclusão das entrevistas com a amostra da pesquisa, realizada em parceria com a Vox Pesquisas, a equipe da agência elaborou cinco perfis que vão desde as pessoas que têm na tecnologia seu habitat natural e que formam suas personalidades a partir destas experiências, até aquelas que apenas recorrem a ela para ajudar a realizar de forma mais ágil suas tarefas cotidianas. Os cinco tipos foram denominados imersos, ferramentados, fascinados, emparelhados e evoluídos.

Na opinião de Maroni, a nova classificação permite aumentar a eficiência das ações digitais. “No início, a publicidade queria achar as pessoas geograficamente. Depois, em momentos, contextos. Agora está no ponto de falar com identidades diferentes”, conta. “Cada perfil exige uma comunicação diferente. Para falar com os imersos, por exemplo, é preciso saber conversar e dar valor para suas identidades virtuais, especialmente usando meios digitais, que é onde essas identidades ganham vida”, aponta.

“Acho que muitas empresas pecam no básico. Os sites não funcionam bem no iPad e no Blackberry, as lojas online também não. O bê-a-bá ainda precisa ser trabalhado. E poucas campanhas exploram a junção do online e do off-line. A integração ainda é a exceção”, conta Celeste Gonzalez, uma das pessoas ouvidas pela pesquisa. Nos últimos seis meses ela migrou do perfil emparelhado para o ferramentado. “Continuo muito plugada, mas perdi um pouco do desespero. A tecnologia vem para ajudar a nossa vida”, diz.

Os imersos são caracterizados por conseguirem definir melhor seus interesses e estabelecerem vínculos com o mundo por meio da tecnologia. Suas personalidades e identidades foram moldadas pela era digital e isso permitiu viver personagens diferentes. Já os ferramentados utilizam a tecnologia para ajudar nas tarefas cotidianas, mas eles não dependem dela e nem são definidos por ela. Os emparelhados vão um pouco além. Eles enxergam a tecnologia como a grande companheira da jornada diária e consideram que a vida fica extremamente complicada sem ela.

No caso dos fascinados, computadores e gadgets são ícones da modernidade e comprá-los os ajudam a atestar que são antenados. Por fim, os evoluídos são as crianças e os adolescentes que já nasceram adaptados e estão crescendo no mundo digital. “Este perfil tem um pouco de demográfico. Quanto mais jovem, maior a chance de ser evoluído. E todos um dia serão evoluídos”, projeta Cynthia.


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Mercados são conversas

O QUE ESPERAR DE 2012 - meio&mensagem - 9 jan 2012. Mídias Sociais




Por Ronaldo Lemos

            Em 2011, um estudante austríaco chamado Max Schrems processou o Facebook demandando uma cópia de todos os dados guardados sobre ele no site. Obteve um documento de 1,2 mil páginas. Detalhe: Max tem 24 anos. Quantas páginas teria o documento quando chegasse aos 40?

            A história ilustra um fato importante: as mídia sociais superaram a escala humana. A quantidade de dados gerados na rede hoje, com ou sem o nosso conhecimento, faz com que a análise e tomada de decisão em marketing seja cada vez mais rápida, precisa e automatizada. Para isso, quanto mais informação melhor. Vivemos em um contexto em que a regra não é mais “o consumidor avalia o produto”, mas sim “o produto avalia o consumidor”, ou melhor, “o produto avalia o consumidor avaliando o produto”.

            Para 2012, há pelo menos duas tendências interessantes em curso. Uma é usar a tecnologia para reforçar o lado da oferta, o que hoje é a regra. A outra não é tão óbvia e traz oportunidades: usar a tecnologia para reforçar a posição do consumidor.

            Vale reler o Manifesto Cluetrains, essencial para quem pensa o marketing digital, escrito em 1999 por Doc Searls, David Weinberg e outros. O manifesto é um libelo consumerista. Ele abre a primeira de suas 95 teses afirmando que “markets are conversations”. Faz lembrar que a mesma tecnologia usada no lado da oferta pode ser também inovadora na ponta do consumidor. Se de um lado há CRMs, por que não de outro explorar o que pode ser chamado de VRM (Vendor Relationship Management)?

            Dois exemplos ilustram as perspectivas. O primeiro é o Klout.com. Ele criou uma fórmula de análise de popularidade na rede. Quem se inscreve pelo Twitter ou Facebook fornece dados pessoais ao site e recebe uma nota de 0 a 100, atribuída a sua capacidade de influência (Lady Gaga tem 92 pontos, Dilma Roussef, 65). Como resultado, algumas festas em Nova York passaram a convidar apenas pessoas com score acima 40. Muitos usuários ficam ansiosos com a própria nota e passam a querer aumentá-la. É isso exatamente o que deseja o Klout: influenciar o comportamento do usuário de acordo com os critérios de “popularidade” inventados por ele (a fórmula de cálculo não é sequer divulgada). É um caso em que o produto analisa o cliente, transformando a própria análise no seu apelo. Nada mais CRM.

“Uma vez que o consumidor tenha acesso prático a informações relevantes, aumentam as chances de impacto construtivo ou transformador. Isso abre o caminho para tornar obsoleta a própria ideia de ‘consumidor’, substituída pela ideia de um ‘consumador’”,

            No espectro oposto está o Goodguide.com. Trata-se de um site e aplicativo para celular que analisa mais de 140 mil produtos, dando notas em categorias como saúde, meio ambiente e práticas sociais. Nessa última categoria incluem-se critérios como governança corporativa, condições de trabalho e outros. Um inofensivo pote de creme Nivea recebeu nota 6 em saúde (por conter um ingrediente que pode gerar efeitos colaterais), 7 em meio ambiente e 5,4 em práticas sociais. Saldo geral 6,1 de um máximo de 10.

            Pode-se discordar da avaliação, mas o objetivo é colocar o fornecedor em perspectiva, incentivando a melhoria das suas práticas e do próprio produto. No caso do Goodguide, os consumidores avaliam o produto e não o contrário. É um exemplo de VRM.

            Reforçar o consumidor nas mídias sociais é um caminho com enormes possibilidades e pouco explorado. Quando uma boa ideia surge nesse campo, gera uma corrida. É só pensar nos sites de compra coletiva ou na onda de plataformas de incentivo a projetos colaborativos.

            Outra discussão importante diz respeito à privacidade e os limites de classificação dos perfis. Quais informações são eticamente aceitáveis de ser consideradas para fins de marketing digital? (Raça? Orientação sexual?) Considerando que a tomada de decisões é automatizada, o desafio é traduzir no próprio software conceitos éticos, valendo-se de ferramentas como paridade estatística, group blindness e outras. Afinal, para cada tipo de microclassificação surgem possibilidades de microdiscriminação.

            Em geral, há um longo caminho para que um novo item de informação seja incorporado a um produto. Nas mídias sociais, novas camadas de informação sobre o consumo surgem a todo o momento, ainda que de forma descentralizada, sem passar por processos consensuais ou regulatórios. Um dos desafios é agregar e organizar essa informação. Com a chegada da “internet das coisas”, surge no horizonte a possibilidade de um “consumo-aumentado”, em paralelo à ideia de “realidade aumentada”.

            Uma vez que o consumidor tenha acesso prático a informações relevantes, aumentam as chances de impacto construtivo ou transformador. Isso abre o caminho para tornar obsoleta a própria ideia de “consumidor”, substituída pela ideia de um “consumador”, ciente do impacto social das suas decisões de consumo. Se mercados são conversas, ampliar a voz do consumidor nas mídias sociais é um dos assuntos para 2012.

Ronaldo Lemos é professor visitante na Universidade de Princeton (EUA), escreve e apresenta o programa ModMTV, sobre tecnologia e tendências

A evolução do "eu" consumidor

O QUE ESPERAR DE 2012 - meio&mensagem - 9 jan 2012. Marketing



Por Bob Vieira da Costa


            A evolução do consumidor é marcada pelo crescente poder que ao longo do tempo foi sendo conquistado graças, principalmente, à evolução da tecnologia, que evidenciou a competitividade global, e pelo seu natural processo de amadurecimento, com a crescente consciência de seu valor ao ser cada vez mais disputado.

            Das primeiras fases, onde tudo era feito sob medida por falta de opção, aos tempos em que se podia escolher a cor do carro desde que fosse preto, houve uma profunda transformação nos mercados até os dias atuais, onde se customiza computadores, vestuário, automóveis e cosméticos como forma de buscar a diferenciação definitiva para o “eu” consumidor.

            Esse processo foi alicerçado nos avanços da tecnologia, que só fez aumentar a capacidade produtiva e elevar de forma estratosférica a oferta de produtos e serviços e permitir se massificar a individualização.

            Ao mesmo tempo, os avanços na tecnologia na área da informação disseminaram o conhecimento e apoderaram consumidores com muito mais capacidade de comparação, mobilidade e instantaneidade, tornando-o senhor de todos os processos e juiz final na avaliação de marcas, produtos, serviços, lojas e canais de vendas e relacionamento.



“A comparação instantânea de alternativas cria um consumidor cada vez mais volúvel e predisposto à experimentação e seu apego às marcas, locais e canais de compras é permanentemente desafiado pela gratificação eventual do novo.”

            Assim evoluímos até os Neoconsumidores, aqueles que são cada vez mais digitais, multicanais e globais nos seus padrões de consumo e desejos e que crescem em sua participação de mercado na mesma velocidade em que a internet, os celulares, smartphones e tablets avançam para se tornarem dominantes no dia a dia das pessoas e, para as novas gerações, uma extensão do corpo.

            Nessa evolução, caminhamos para o aumento também da participação dos Metaconsumidores, aqueles dentre os Neoconsumidores que buscam, além dos produtos e serviços, o compromisso das marcas e das corporações com a sustentabilidade, percebido como caminho sem volta em especial pelas novas gerações em todo o mundo.

            Todo esse processo desencadeou uma profunda e estrutural transformação no mercado onde a referência de produtos, marcas, lojas e serviços é cada vez mais aquela feita por outros consumidores e cada vez menos pela comunicação oficial, desafiando empresas a se relacionarem de forma positiva para gerar empatia, reconhecimento e adesão.

            A comparação instantânea de alternativas cria um consumidor cada vez mais volúvel e predisposto à experimentação e seu apego às marcas, locais e canais de compras é permanentemente desafiado pela gratificação eventual do novo. Um cenário onde a hiperconveniência, demandada por uma vida mais atribulada e de tempos cada vez mais escassos, nos torna mais apegados ao que é mais próximo, simples e fácil, por paradoxal que possa parecer.

            Vivemos um quadro onde a própria competitividade precipita a concentração corporativa da oferta, porém com multiplicação de marcas e alternativas, que deveriam deixar consumidores cativos das grandes corporações globais, mas cujo efeito é contrário; pois a competitividade disseminada coloca ainda mais poder nas mãos dos consumidores..

            É um cenário onde existe um amplo processo de troca de papéis, com a indústria cada vez mais presente diretamente no varejo, inclusive digital, como Apple, Nike, Nespresso e muitos outros, o que cria ainda mais alternativas na disputa pelo consumidor. a varejo se transforma em desenvolvedor de produtos e gestor de marcas, nos mais diversos canais, seja em empresas do mercado global como Zara, H&M, Tesco, Carrefour, Walmart, ou do mercado interno – Pão de Açúcar, Riachuelo, Renner, C&A e Marisa. Todas estão em busca de gerar mais opções, cada vez mais segmentadas e específicas, a partir da possibilidade de monitoramento do comportamento e desejos do “eu” consumidor.

            São tempos em que as possibilidades geradas pela tecnologia para acompanhar os padrões de consumo, identificar comportamentos, desejos e rejeições, colocam os detentores dos meios necessários para administrar esse comportamento numa situação privilegiada para adequar a oferta de produtos, marcas, preços e promoções aos desejos’ e vontades do “eu” consumidor.

            O conjunto dessas transformações fez emergir um consumidor mais conectado, irreversivelmente mais informado, mais determinado, mais disputado, mais consciente, mais crítico, mais aberto a expressar seus agrados e desagrados e, crescentemente, mais difícil de ser entendido e atendido, por mais recursos que sejam alocados para isso.

            Nessa complexa equação redesenhada, estranhamente se tem desconsiderado, em especial nos mercados mais maduros e desenvolvidos, que o melhor e mais efetivo elemento de interação com o “eu” consumidor é o ser humano, o único que tem condições de entender, aprender, responder, interagir e se relacionar de forma adequada e, se possível surpreendentemente positiva, para gerar o correto nível de satisfação. E muito investimento tem sido feito em tecnologia, sistemas de informação, processos, telefonia e outros recursos mais, buscando “desumanizar” as relações, em busca do improvável equilíbrio entre menores custos e máxima satisfação, redundando em crescentes níveis de frustração.

            Neste contexto, as redes sociais se tornaram a mais complexa e indomável opção de expressão para os “eu” consumidores e ao mesmo tempo, o testemunho de como numa era de hiper-comunicação as pessoas se sentem sós e buscam relacionamentos, referências, contatos e diálogo, o que tem sido pouco compreendido pelas corporações e pelas marcas.

            Nessa escalada de complexidade talvez o mais simples raciocínio seja a constatação que o desafio de decifrar ou ser devorado pelos “eu” consumidores está mais na capacidade de saber ouvir e perguntar, para entender, do que no poder de falar e comunicar.



Marcos Gouvêa é diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O futuro das mídias

O QUE ESPERAR DE 2012 - meio&mensagem - 9 jan 2012. Jornais



Por Ricardo Gandour


Brincando com o título do famoso filme de Joel Schumacher: 2012 será o primeiro ano do resto de nossas mídias. O que acontecerá? Conosco, como profissionais? Com nossos veículos, como meios e plataformas de difusão? Estamos vivendo um fascinante momento. A oferta de conteúdos e os hábitos de consumir informação estão em vigorosa transição. É o tão falado olho do furacão: a história se escreve diante de nossos olhos. E aquelas perguntas dominam rodas, reuniões, palestras ... E artigos.

            Primeiro, um olhar em perspectiva histórica. No imperdível livro Uma História Social da Mídia (Jorge Zahar Editor), Peter Burke e Asa Briggs mostram, em brilhante narrativa de tese de doutorado da inglesa Cambridge University, como cada nova mídia que surgiu impactou as existentes, que se chacoalharam, se renovaram e seguiram em frente, convivendo com as novidades. Na primeira metade do século 20 as ferrovias norte-americanas tinham o poder de “carrier” hoje exibido pelas teles. Transportavam cartas, telegramas e periódicos, conectando milhões de pessoas. Na década de 50, o Times inglês anunciou o fim do rádio em no máximo cinco anos, diante da novidade televisiva. A TV, décadas depois, ameaçou de morte o cinema, que se reinventou como diversão e negócio, e prosseguiu. Será que os fenômenos descritos pela dupla inglesa irão se repetir, nesses tempos já quase pós-internet? O livro, editado em 2004, não chega a arriscar.

            Um segundo aspecto a abordar é o ciclo de implantação de uma nova mídia. No início, o meio se impõe naturalmente, pela novidade. Quando o CD apareceu, o que se gravasse na minibolacha, atrairia. Clássicos de domínio público, por exemplo. Implantada e consolidada a nova plataforma, sobrevém o que ela carrega – o conteúdo e os complementos costumeiramente afeitos a essa palavra: qualidade e credibilidade.

“O que acontecerá conosco como profissionais? E com nossos veículos, como meios e plataformas de difusão? Estamos vivendo um fascinante momento. A oferta de conteúdos e os hábitos de consumir informação estão em vigorosa transição.”

            Vivemos hoje um ciclo particularmente longo. Novidades e aprimoramentos se sucedem. Há menos de dois anos, ainda tentando consolidar um modelo de operação na web, nem falávamos em tablets. Como nos posicionar diante dessa frenética mudança e que, aparentemente, ainda não esboça se atingirá um patamar estável, se sequer sabemos se este é mais um clico ou se o paradigma daqui para frente é o da constante e infindável mudança?

            Penso que não há uma resposta a essa questão, mas sim uma atitude diante dela, um modo de encaminhar as coisas. Arrisco tentar resumir essa postura em alguns pontos, relacionados e complementares entre si:

1)            Oferecer ao nosso consumidor de informação a melhor experiência em cada plataforma. Não tentemos de fazer uma mídia imitar ou emular outra. Quando fizemos o redesenho do estadão no papel, intensos debates nos convenceram que deveríamos oferecer a melhor experiência-papel: um jornal organizado, bem desenhado e escrito com profundidade. Para quem gosta de ler

A experiência oferecida pelo papel vai além da simples impressão com tinta. Ela reside no fato de a informação estar plenamente fixada, sem nenhuma possibilidade de update instantâneo. A informação fixa permite e estimula algo que anda escasso nos dias atuais: o tempo de reflexão. É preciso um tempo para pensar no que se leu, antes do próximo update ou comentário. Só a reflexão sobre o que se leu gera ideias – concordantes ou divergentes, mas ideias!

Essa experiência da informação “fixada” foi resgatada no mundo digital pelos tablets que, ainda não estáveis, flertam com navegadores e instantaneidades. Pesquisas mostram que parte significativa dos downloads de jornais e revistas em tablets são os da chamada “versão impressa”: as pessoas querem o produto editado e com o qual têm familiaridade. Pode ser um hábito transitório, mas não deixa de ser notável. A edição é um valor que se agrega à informação pura e simples. Edição reflete as escolhas que alguém fez, alguém em quem a gente confia.

2)         Conhecer profundamente as novas possibilidades. Estudá-las e vive-las até atingir a intimidade que se tem com as mídias existentes. Só assim se permitirá oferecer a experiência plena, também nos novos meios. Engajamento e consideração do outro, do lado de lá, da audiência, são imperativos. Misturar-se, mas não confundir-se.

3)         Lembrar-se de que, do lado de lá, tem um ser humano, com seu cinco sentidos. Ora ele quer apenas ler, ora ouvir, às vezes somente ver e relaxar. Contemple-o com a informação adequada, no meio conveniente, a cada momento do dia ou da noite, e com a melhor experiência possível! A consideração da dimensão humana, no desenvolvimento de software e no design, é um dos grandes legados de Steve Jobs. A obsessão digital de Jobs incluía emular o analógico – a vida real. O sonho de um iPad é ser tão fino quanto uma folha de papel.

4)         Ao vivenciar plenamente cada mídia, não “entrega-las” à sua sorte e passivamente ao futuro, mas conduzi-las fortemente no presente. Podemos, ao “seguir uma tendência”, também interferir no ciclo natural de uma mídia. Devemos, sim, extrair o máximo de sua potencialidade, maximizando a experiência de nossos leitores, ouvintes, seguidores, adicionados e curtidores.

            Dessa forma, estaremos cumprindo a missão que, penso, deve pautar a atual geração de editores: trabalhar para perpetuar experiências, imaginando que todas as mídias chegam, convivem e são eternas. Inovando em todas elas. E o futuro que venha!

Ricardo Gandour é diretor de conteúdo do Grupo Estado