O grande erro do empreendedor que começa um negócio e fracassa está no seu modo de pensar: “vou abrir um negócio para mim, não vou mais trabalhar para os outros"
De Administradores
Várias causas são apontadas para
o fracasso das empresas que abrem e fecham antes de completar os dois anos de
vida: falta de planejamento, falta de inovação, local errado, falta de
conhecimento, tino comercial ou a inabilidade do empreendedor no trato com os
clientes e funcionários, etc. Mas penso que existe algo ainda mais impactante
do que tudo isso.
Um dentista estuda cinco anos na
faculdade de odontologia para que? Para
cuidar do seu próprio dente? Não! Seu trabalho é para tratar os dentes
de outras pessoas. O fundamento do trabalho é sempre trabalhar para os outros.
O grande erro do empreendedor que
começa um negócio e fracassa está no seu modo de pensar: “vou abrir um negócio
para mim, não vou mais trabalhar para os outros”. Ora, se o fundamento do
trabalho está em trabalhar para os outros, aquele que não quer isso não precisa
ter clientes. A empresa trabalha sempre para produzir algo para outras pessoas
e nunca para o seu proprietário.
Existe uma idéia errada no Brasil
que parte principalmente de partidos políticos e sindicatos que vendem a ideia
de que o empresário ganha muito dinheiro, que basta empreender para ficar rico.
Esquecem de dizer que para ganhar dinheiro precisa trabalhar muito, no mínimo
de 12 a 15 horas por dia, sem feriadão, sábado, domingo. Tem muitos impostos a
pagar, muitas contas, precisa acordar cedo e dormir muito tarde. Por conta
disso, muitas pessoas se aventuram a abrir empresas, sonham em ser empresário
para ganhar dinheiro rapidamente.
Vejo muitas barracas vendendo
tudo quanto é coisa na calçada. Tem uma dessas na avenida por onde passo
frequentemente que ocupa mais da metade da largura da calçada. As pessoas que circulam por lá não tem espaço
para passar e são obrigadas a andar na avenida, junto com os carros.
Nota-se a total indiferença do
proprietário com as pessoas, como se o negócio dele não fizesse parte da
comunidade. Só está interessado em expor a sua mercadoria, vender e ganhar
dinheiro. Este exemplo mostra o comportamento de uma boa parte dos
empreendedores iniciantes. Falta a base fundamental que sustenta um negócio:
trabalhar para os outros.
Os dois fundamentos que resumem
porque algumas empresas não sobrevivem e não crescem são: a) a empresa tem a
finalidade de servir, ser útil à sociedade, à comunidade a que pertence. Em
outras palavras, a empresa é da sociedade, da comunidade; b) se as pessoas
perceberem que numa empresa não existe a vontade de servir ao público ela
fechará.
O primeiro fundamento explica
porque 25% das empresas fecham antes de completar dois anos de vida. Fecham
porque simplesmente não tem vontade de trabalhar para outros, ser útil aos
outros. Querem só ganhar dinheiro, só estão preocupados com o próprio ganho,
não importando em ser é útil às pessoas, em ser necessário ao mundo.
Mas porque mesmo as empresas que
tem bons propósitos muitas vezes acabam fechando?
O segundo fundamento diz que “se
a sociedade perceber que numa empresa existe a vontade de servir ao público,
ela prosperará”. Ou seja, as pessoas precisam saber que a empresa existe e tem
muita vontade de ser útil.
É nesse ponto que entram as
vendas, marketing, propaganda, rede de contatos e a criatividade para abrir um
canal de comunicação com o seu público. O fundamento da propaganda “não é
vender”, mas sim levar uma mensagem, uma oferta, uma atração que faça com que o
cliente perceba que a empresa tem o propósito de servir.
Penso que se uma empresa não for necessária ao mundo não há razão para nascer, crescer, progredir. Assim sendo, a chave para garantir a sobrevivência e o crescimento da empresa está em ser e continuar sendo necessária ao mundo ao longo de todo o ciclo de sua vida. É neste momento que deve entrar a inovação. Cabe ao administrador da empresa redirecioná-la para continuar sendo sempre necessária ao mundo.
Orlando Oda é administrador de empresas, mestrado em administração financeira pela FGV e presidente do Grupo AfixCode.
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