Por Tomás Carmona - Gerente Corporativo de Sustentabilidade da Serasa Expirean
A educação financeira, mais especificamente aquela voltada a
crianças e adolescentes, pode dotar esse público, futuros consumidores e
influenciadores em seus círculos de convivência, de um nível de consciência que
dificilmente se perderá ao longo de suas vidas, estabelecendo padrões de
comportamento e consumo futuros muito mais sustentáveis.
A discussão sobre o nível de consumo que a sociedade pratica
nos dias de hoje e em que medida este consumo é ou não é sustentável, aparece
em estudos científicos que afirmam já estarmos em um nível aproximadamente 30%
acima do que o planeta consegue regenerar.
Pois bem, preconizamos a educação financeira dos mais jovens
baseada na questão histórica do uso do dinheiro e do consumo; no entendimento
claro entre desejo e necessidade, no querer versus precisar; e na
exemplaridade dos pais. Tudo isso leva à compreensão da interdependência que há
entre a necessidade de maior consciência para o consumo e a sustentabilidade.
A questão histórica do uso do dinheiro explica a “ética do
consumo”, surgida na segunda metade do século XIX nos Estados Unidos e, em
suma, se caracteriza pela ostentação de hábitos de consumo extravagantes como
forma de avaliação social positiva, status e prestígio.
No terreno de desejos versus necessidades, a
subjetividade da análise é uma constante, pois existem inúmeros estudos,
principalmente no campo da psicologia, tentando identificar quais são os
fatores que criam, aumentam ou diminuem os nossos desejos. Obviamente que somos
influenciados pelas interações com o ambiente que nos cerca. O desejo, por
exemplo, de sermos considerados importantes, pode muitas vezes nos motivar a
viver acima de nossa capacidade financeira, fomentando um consumo pessoal e
familiar direcionado para a aceitação pela sociedade por meio do exibicionismo.
Por isso um jovem financeiramente bem educado saberá
discernir e calcular, quando ingressar no mercado de consumo, o quanto do
orçamento pode ser destinado a satisfazer necessidades e o quanto pode ser
direcionado para satisfazer desejos, de forma equilibrada. Trabalhar com as
crianças os conceitos de querer e precisar é crucial, pois somente assim elas
aprenderão a distinguir o consumo para a satisfação de uma necessidade do
consumo para a satisfação de um desejo.
Crianças procuram se espelhar em seus pais como exemplos, e
serão um reflexo dos hábitos que presenciam durante a sua formação. E os
hábitos de consumo não são exceção.
Os momentos de convívio e lazer familiar, nos dias de hoje e
principalmente nas famílias residentes em centros urbanos, são cada vez mais
escassos, e frequentemente ocorrem mais intensamente nos finais de semana – já
que os pais trabalham fora de casa durante a semana –, e em situações e
ambientes que estimulam o consumo: lanche ou almoço no shopping; as compras; a
locação de um DVD; o cinema. Trata-se de uma prematura exposição ao consumo que
leva muitas crianças a confundir e vincular, desde muito novas, o prazer da
convivência com os pais ao prazer do consumo.
Na educação financeira infantil, o processo abarca quatro
grandes áreas: como ganhar, como poupar, como gastar e como doar. Mais
especificamente no que toca ao “como gastar”, estamos falando de fazer
escolhas. “Ensinar os filhos a discernir as consequências de seguir essa ou
aquela opção torna-os responsáveis pelo destino que constroem”, escreveu Cássia
D’Aquino, renomada autora de publicações sobre educação financeira.
A exemplaridade e o poder de influência dos pais na
formação do caráter das novas gerações impõe a todos uma responsabilidade ainda
não percebida pela maioria. Vencer o desafio da sustentabilidade pelo caminho
da educação financeira de crianças e adolescentes leva tempo e exige repetição
e muito empenho. Mas é um caminho mais poderoso que qualquer mídia, escola,
publicidade ou campanha.
Estabelecer interdependência entre a necessidade da
diminuição de consumo e a sustentabilidade significa falar de educação financeira
e uso consciente do dinheiro interligando todo o processo de consumir, pois o
dinheiro “atravessa” o ato de consumo.
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